O projecto “Risco e resiliência nos adolescentes com necessidades educativas especiais” pretende conhecer os comportamentos e estilos de vida dos adolescentes com necessidades educativas especiais (NEE), e desenvolver um programa no âmbito da promoção da saúde e resiliência adaptado a estes jovens. Em termos mais concretos, o projecto tem como objectivos:
- Contribuir para o conhecimento dos comportamentos e estilos de vida dos adolescentes com necessidades NEE nos vários contextos da sua vida, integrados no ensino regular;
- Conhecimento da situação actual das NEE em contextos integrados;
- Disseminação e discussão dos resultados junto dos grupos participantes;
- Elaboração de um programa de intervenção, centrado na promoção de factores de protecção aliados à saúde e resiliência da referida população-alvo;
- Formação de pais e professores nas áreas acima mencionadas.
Para a concretização dos objectivos realizou-se uma primeira etapa que correspondeu à aplicação de um questionário a uma amostra nacional estratificada por cinco regiões do país (Norte, Centro, Lisboa e Vale do Tejo, Alentejo e Algarve). Esta parte do projecto está aliada ao projecto HBSC/OMS, que realizou um estudo nacional no início do ano de 2006. Para tal foram seleccionadas aleatoriamente da lista nacional do Ministério da Educação 150 escolas, num total de 6000 alunos (cerca de 10% com NEE). Para aumentar a incidência dos alunos com NEE, foi enviado para os professores de apoio das escolas seleccionadas “pacotes” adicionais de modo a que o questionário fosse aplicado a todos os alunos com NEE que frequentavam as escolas seleccionadas. O questionário englobou um conjunto de questões relacionadas com os comportamentos e estilos de vida dos jovens (consumos de tabaco e álcool, hábitos alimentares, violência, ambiente na escola, expectativas futuras, bem-estar e apoio familiar, sintomas físicos e psicológicos, imagem corporal), bem como um conjunto de questões relacionadas com a resiliência (factores individuais, familiares e comunitários aliados à resiliência, acontecimentos de vida). Para além do questionário de auto-preenchimento pelos alunos com NEE, foi ainda enviado um questionário para o conselho directivo da escola, relativo à situação das NEE em contexto integrado a nível nacional. Os dados recolhidos foram tratados através de procedimentos estatísticos multivariados no sentido de estabelecer e perceber relação entre os vários factores em questão.
Esta primeira parte teve assim como principal objectivo o conhecimento dos factores aliados ao risco e à protecção na saúde e na resiliência dos adolescentes com NEE, que constitui ainda uma área a explorar, dado que a maior parte dos estudos realizados nesta área, abrange apenas jovens sem NEE, ou não fazem uma análise em separado destes dois tipos de grupos. Esta parte constituiu ainda uma peça de extrema importância dado que o conhecimento dos factores aliados ao risco e à protecção na saúde e na resiliência constituem aspectos fundamentais para o delinear de intervenções neste âmbito.
Uma segunda etapa deste trabalho teve como objectivo a disseminação dos resultados obtidos junto das escolas participantes e de outras instituições de apoio aos indivíduos com deficiência, no sentido de partilhar e contextualizar a informação obtida anteriormente. Foram realizados cinco encontros (nas regiões abrangidas pelo estudo) onde se reuniram as escolas participantes, bem como outras instituições comunitárias que desenvolveram trabalho no âmbito das NEE. Realizaram-se ainda neste âmbito grupos focais que consistem em entrevistas colectivas com os adolescentes com NEE, realizados com o objectivo de recolher e debater diferentes opiniões sobre as questões relacionadas com a sua saúde e resiliência, permitindo deste modo contextualizar os resultados quantitativos.
A fase seguinte envolveu a elaboração de um programa de promoção de factores aliados à saúde e à resiliência a aplicar aos adolescentes com NEE no contexto escolar. O programa desenvolvido centrou-se na promoção de competências pessoais e sociais determinantes para autonomia, resiliência e inclusão dos jovens com NEE.
Esta última etapa traduz-se na formação de professores (e outros técnicos que actuem no âmbito das NEE no contexto escolar) e de pais, dado estes constituírem uns dos principais intervenientes na vida dos adolescentes, e como tal, uns dos principais factores aliados à sua saúde e resiliência. Estas três últimas etapas parecem de extrema importância, dado o seu carácter abrangente e em simultâneo focalizado na resiliência, que parece fazer um sentido especial para os adolescentes com NEE.
A investigação na área das NEE tem se situado sobre aspectos mais relacionados com a inclusão no sentido mais restrito das necessidades educativas, pelo que parece relevante a investigação e desenvolvimento de programas no contexto escolar mais vocacionados para aspectos relativos ao desenvolvimento pessoal e social dos jovens com NEE.